No primeiro dia me deitei perto do baú cheio de estrelas e das roupas coloridas, lugar de fantasiar antes da cena, e ficava lembrando e fantasiando com a criança que tem dentro de mim, e lembranças da minha infância vinham. E deitada no chão do circo olhando a lona tão azul e amarela, penso como sempre fantasiei tudo. Fantasiei a ponto de fazer a minha vida uma fantasia, quase perdida em coisas irreais, sempre distraída. É como a poesia, um mar de palavras sem fim, como os sentimentos em mim e as fantasias da eterna criança. Enquanto isso, ele se esforçava nos malabares, brincadeira que requer vontade, tem que querer brincar!
No segundo dia, já pude entender a criança que acordou no último dia tão desperta como um animal. E já logo cedo correu para o circo como um refúgio. Que bom poder nos refugiar no circo como uma criança, e fazer palhaçadas e perder a racionalidade. Passei ali a manhã bem livre, e pude entender que as crianças gritam por desejos de expressar-se com liberdade. Essas crianças que tem dentro da gente nunca vão morrer. Circo para todas elas! E as mesmas pedras gigantes que víamos cercando o circo tão vivas, agora me diziam que eu deveria voltar para minha terra, onde deixei uma família na época em que eu era tão fantasiosa. E quero presenteá-los com um pouco mais de consciência da realidade, e talvez estar madura para mim signifique isso: contato maior com a realidade, não perder-me tanto em intelecto, poesia, imagem, sentimento, sonho... Mas, me digam vocês: o que é a realidade, se não a ordem que a maioria impõe? Todos pensam que vivem livres. Mas faltam saltar de suas rotinas e perde-se como crianças livres em circos.
Também posso explicar essa minha irrealidade e a questão da necessidade do mundo físico da seguinte forma: Signos. O que o céu me responde da minha natureza terrestre no momento em que nasci: Sou peixes com ascendente em touro. Conto com a presença inquestionável das minhas forças do pensamento e do sentimento que o meu Sol em Peixes me dá, condenando-me a estar sempre na fantasia como só um bobo poderia. Mas minha ascendência em touro me dá forças para ser bem valente corporalmente, sensualmente, e outrosmente. Gasta-se gasta-se o intelecto e não se sabe o que fazer com tanto pensamento e sentimento. Malha-se malha-se o corpo e não se sabe o que fazer com tanta força física. Mas fui perceber tarde, essa necessidade do contato com a terra e com a realidade que os signos de água devem buscar, para não perder a noção do real.
Mas é preciso de uma força física maior que a força das águas. União da força física de um cavaleiro e eles me prometem um momento de voltar pra casa mais consciente das minhas escolhas. Falta algum tipo de força, além das águas, que desconheço. Amanhã saberei, pois vou ao terreiro, para pedir que essas forças me abençoem para decidir e conquistar o que é meu, meus dons e virtudes, que sempre há de se conhecer e buscar.
No terreiro, no dia seguinte, vi que sou Iemanjá, rainha das águas.
Sou cigana da mesa branca, Jussara. O que busco é a liberdade, mas também sou do amor, do bem, e o lar me chama. A família, os amigos.Os búzios mostraram que todos os caminhos estão fechados para mim, agora. Mas tirei as cartas e saiu Xangô e Oxalá, e eles mostraram o caminho das lutas, que eu precisava encontrar para acrescentar à força de Iemanjá. E enquanto sou cigana, Pedro é índio, pelo que ele tirou das cartas.